Atletas da FIB, Elena e Stela, são aprovadas em avaliação de futebol do Palmeiras



Zagueira Stela e goleira goleira Elena foram aprovadas e estão em Itu com demais atletas do clube
Foto: Arquivo pessoal

Duas jogadoras do projeto de futebol feminino da Associação Atlética FIB foram aprovadas em uma avaliação realizada pela Sociedade Esportiva Palmeiras na última terça-feira, dia 11, em Itu. Elena Vitoria Falcete Cosmo, goleira de 18 anos e Stela Christine de Oliveira, zagueira de 17 anos, já estão no CT do clube e em adaptação com as demais jogadoras da categoria sub-18.

Ambas as atletas podem ser integradas definitivamente ao clube paulistano após o período de testes lá na grande São Paulo. O alviverde está em via, inclusive, de disputar a primeira edição do Campeonato Brasileiro sub-18, promovido pela CBF, e que terá início no dia 08 de julho. O Verdão compõe o grupo D ao lado do Bahia, Fluminense e Minas ICESP - DF.

Nossa equipe bateu um papo com as meninas e ouviu sobre a curta, porém rica trajetória de ambas até aqui, desde seus primeiros passos no futebol até esse momento de aprovação no teste para uma grande equipe do cenário nacional:

Elena Cosmo

Hoje goleira, Elena nasceu em Bauru e logo cedo se mudou para Lucas do Rio Verde - MT com sua família. Ela conta que antes dos dez anos de idade começou a jogar futebol motivada pela sua madrinha ainda lá no Mato Grosso. 

No ano passado, através de uma amiga da família, foi convidada a fazer parte do time feminino que a FIB tinha organizado. Foi então que sua tia Ivone foi essencial para o seu retorno a Bauru e o seu ingresso no projeto encabeçado pelo profissional em Educação Física e também membro da diretoria do time de futsal da FIB, Elton Carvalho:


atleta defendendo a camisa da FIB
Foto: Arquivo pessoal

"Nasci em Bauru fui para o Mato Grosso com três anos de idade. Comecei a jogar bola com nove anos através da minha madrinha Andreia Neia em um projeto da escola lá em Lucas do Rio Verde. No ano passado, através de uma amiga de família, fui convidada a jogar na FIB e minha Tia Ivone foi essencial para eu voltar a Bauru depois de 14 anos. Chegando em Bauru, fui participar então dos Jogos Regionais na cidade de São Carlos junto com as meninas do projeto da Semel e também da FIB."

Nessa edição, as meninas disputaram tanto a competição no futebol de campo quanto no futsal e ficaram entre as primeiras colocadas. Foi então que Elena passou por uma situação inédita e teve uma experiência que mudou seus caminhos no futebol:

"Ficamos em 3º lugar tanto no campo quanto no salão e fomos classificadas para os Jogos Abertos nas duas modalidades. Quando chegaram os Abertos tive uma surpresa. Iria ser a goleira do futebol de campo porque a titular não poderia ir, e até então não tinha noção de como jogar (risos). Foi aí que tive a experiência e gostei. Comecei a treinar com o Elton e também na Escolinha do Foguinho, onde era a única menina. Tivemos um jogo em São Paulo pelo sub 17 e a partir dali comecei a me destacar como goleira. Decidi então a me dedicar no futebol."

Testes e oportunidade no Palmeiras


goleira nascida em Bauru está tendo sua primeira oportunidade num grande clube
Foto: Arquivo pessoal

Elena conta que chegou a fazer avaliações em outras equipes antes do Verdão, mas que apesar de ter ficado em stand-by, nunca desistiu de persistir na carreira de atleta:

"Fiz vários testes na Ponte Preta, Audax, Ferroviária e sempre fiquei aguardando a resposta, porém nunca desisti de jogar pois sabia do meu potencial. Foi então que por esses dias minha irmã, Eduarda Cosmo, me marcou em uma publicação que dizia que teria um teste do Palmeiras. Fiz minha inscrição e na terça-feira dia 11 fui fazer a avaliação. No final da seletiva tive o prazer de saber que tinha passado e que estaria em avaliação a partir do dia 12 no CT do Palmeiras em Itu. Eu fiquei muito feliz, liguei para minha família, para os meus pais que continuam morando no Mato Grosso e para a minha tia Ivone, pois graças a ela tive a oportunidade de vivência de todas essas experiências." conta.

Stela Christine 

Também bauruense, Stela diz que deu seus primeiros passos no futebol ainda criança, também com menos de dez anos de idade e que sempre contou com o incentivo de sua família:

"Minha trajetória no futebol feminino começou desde quando era muito pequena, com meus sete, oito anos de idade. Tive muito incentivo da parte do meu tio, irmão da minha mãe, e do restante da minha família também; da minha mãe, do meu pai e da minha irmã que sempre me incentivaram a fazer o que eu gostasse."


Atleta (ao centro) com troféu de 3º lugar conquistado em competição regional,
ao lado de Everton (Prep. Físico da FIB - à esquerda) e do treinador Elton Carvalho (à direita)
Foto: Arquivo pessoal

Ela conta que começou a treinar ainda no campo do Jardim Redentor, no distrital Nelson Reginato do Canto, e que a partir de então, após conhecer o professor Elton (Carvalho), o acompanhou no Projeto da FIB. Disse que encontrou dificuldades no processo de transição do futsal (que já praticava) para o campo, mas que aos poucos foi se adaptando e desenvolvendo:

"Se não estiver enganada, por conta de um bom tempo que já faz, eu estou no Projeto da FIB com o professor Elton há uns quatro anos. Antes, porém, recebi um convite de uma amiga falando que ele iria dar início aos treinos (de futebol) lá no Redentor, para eu poder estar junto fazendo parte do grupo. No começo era muito difícil porque só tinha praticado futsal e não estava bem entrosada para praticar futebol de campo, pois só jogava com os meninos. Foi uma adaptação não muito fácil pra mim, mas ao mesmo tempo prazerosa porque só de estar ali com pessoas que gostam da mesma coisa que você e ainda mais por ser meninas, vocês se entendem na hora de conversar, pois é diferente de trabalhar com mulher e com homem em relação a ser atleta."

Ainda sobre Elton, Stela fez bastante elogios a sua metodologia de trabalho e salienta que caso não tivesse sido ele o seu mentor, provavelmente não estaria hoje no Palmeiras:

"Acho importante falar do Elton, porque às vezes paro para pensar, estando aqui com as meninas no Palmeiras, que acaso não fosse ele, acho que eu poderia não estar aqui. Dependendo por quem passasse pela minha formação no futebol (...) porque ele é uma pessoa muito capacitada, gosta do que faz, gosta de trabalhar com gente, gosta de trabalhar com futebol masculino e feminino, se dedica e é muito capacitado. Eu gosto bastante do trabalho dele, tanto pela forma como trata a gente (...) porque tem muito treinador que a gente fala 'nossa, esse treinador é grosso, é estúpido', mas com ele não tenho o que reclamar. Às vezes a gente tinha algumas desavenças no campo, mas isso é parte, são coisas de atleta e treinador. Fora do campo é uma pessoa super gente boa e não tenho o que reclamar dele."


Stela (ao centro) com troféu ao lado de Elton Carvalho (à esq) e Alemão (à dir)
Foto: Arquivo pessoal

De forma relacionada, Stela também fala do grande desenvolvimento que adquiriu em todo o seu tempo de treinamento na FIB:

"A FIB foi minha formação, mesmo porque no futebol feminino foi ali onde mais tive contato com as meninas, contato com o futebol de verdade. Tive oportunidade de estar jogando no futsal feminino com professor Alemão (irmão de Elton) em que foi uma grande formação pra mim. Ali aprendi a ser atleta dentro e fora de campo, porque acho isso essencial na vida de uma pessoa que está no esporte."

Avaliações

Stela conta que antes de ser aprovada neste teste no Palmeiras, já tinha tido o privilégio de ser aprovada em outros testes que fizera. Porém, por diversas adversidades, não pode permanecer em nenhum dos clubes.


"Anteriormente eu já tinha passado por vários outros testes. No Corinthians, na Ferroviária, no Osasco Audax e até mesmo no futsal feminino do São Bernardo. No Corinthians não fiquei por falta de currículo; no Audax o pessoal até gostou do trabalho, mas acabei não ficando por conta da idade. Em são Bernardo eles me pediram para ficar uma semana lá, mas por conta própria, e isso não iria estar ao meu alcance."


Stela em avaliação no Osasco/Audax
Foto: Arquivo pessoal

Foi então que surgiu a oportunidade no time do Palmeiras. Ela disse que foi a própria Elena quem a comunicou da avaliação e logo se animaram e se ajudaram para irem até Itu realizar o teste.

"Quando surgiu peneira no Palmeiras, foi a Elena que me avisou, me chamando, falando 'vamos, vamos que é uma oportunidade que está surgindo pra gente'. Desde quando conheci ela, vai fazer um ano, é sempre uma apoiando a outra; mesma situação do Elton. Às vezes a gente briga por coisa de campo, seja dentro ou fora, mas a gente sabe separar as coisas e logo tudo volta ao normal. A gente sempre está se apoiando. Acredito que por conta da idade, por a gente saber que o futebol feminino (sempre está) abrindo portas para as meninas mais velhas, às vezes é muito difícil de surgir oportunidade e a primeira que surge a gente está ali incentivando uma a outra, porque sabemos que uma hora vai dar certo."

Stela conta que foi sua mãe quem as levou até Itu. Ao chegarem lá, ela diz que foram orientadas antes de começarem as avaliações a respeito da estrutura que as atletas aprovadas encontrariam à disposição. Em tom de desabafo, ela também conta da real dificuldade encontrada pelas atletas na grande parte dos clubes na modalidade no Brasil:

"Falei 'vamos sim, é em Itu, minha mãe até levaria a gente por não ser uma distância tão longe', e acabamos chamando outras duas meninas do time para dividirmos os gastos. Fizemos o teste na terça, logo depois que a gente tinha feito os jogos lá com o pessoal e até antes dos jogos que o professor coordenaria. Eles avisaram que quem passasse teria alojamento e alimentação tudo pago pelo Palmeiras e que ninguém precisaria arcar com nada. Acredito que todo mundo ali, todas as meninas que estavam em busca dos sonhos delas, tinham a consciência de que é muito difícil de achar um clube que banque tudo para você. Muitas vezes se paga o alojamento ou acha uma casa pra morar pra dividir junto com outras meninas, ou se vira por conta própria. Eles (clubes) estão focados mais em questões dentro de campo; fora de campo a sua vida pra eles, por exemplo, não interessa. Eles querem seu rendimento dentro de campo enquanto que o seu bem estar, as suas condições, pouco importam."

Após o teste, Stela conta o seu sentimento e qual foi o seu primeiro pensamento ao saber que tinha sido aprovada para ingressar no Palmeiras:


Jogadora com uniforme palmeirense após aprovação em teste
Foto: Arquivo pessoal

"Depois que fizemos o teste, quando fiquei sabendo, foi só felicidade a hora que me passaram o resultado. Mas a primeira coisa que pensei na hora foi em meu pai, que faleceu em dezembro de 2018, pois eu pensei em ligar pra ele. Acho que a ficha ainda não caiu, que eu não tenho mais meu pai (...) mas foi a primeira coisa que pensei, que ele iria ficar feliz em saber que eu estou aqui e conseguindo conquistar o que sempre sonhei. E mesmo ele estando de certa forma meio longe, em consequência  da separação da minha mãe, ele sempre me apoiou."

Stela diz que tem vivido um sonho no Palmeiras. Da estrutura que encontrou, dos profissionais com quem têm trabalhado, tem feito muita diferença e tem agregado bastante para o seu desenvolvimento como atleta:

"Aqui é um sonho que está sendo realizado. A gente tem tudo aqui, conforme o professor tinha falado. Alojamento, alimentação ... as meninas moram todas juntas, a gente divide quarto. Moramos num clube que o Palmeiras alugou exatamente pra gente morar. Os treinos são todos aqui no mesmo lugar, a gente não se desloca, nada tem custo; e apesar de a gente estar passando ainda por uma fase de avaliação, não tendo a certeza se ficaremos no time ou iremos embora, sei que só de estar aqui já é um sonho realizado. Acredito que está sendo uma experiência e tanto pra mim quanto pra Elena, e (a partir de agora) é manter os pés firmes no chão e seguir o que o professor Elton falava pra gente; pra ter humildade sempre independente de qualquer coisa, manter a cabeça boa para que se, se Deus quiser, poder conquistar o mundo. Estamos fazendo o que gostamos e temos que aproveitar a oportunidade que o Palmeiras está dando pra gente, com uma ótima estrutura e toda sua comissão" finaliza.


Stela e Elena, juntas, em alojamento do Palmeiras em Itu
Foto: Arquivo pessoal


O futuro da modalidade

Estamos em meio a uma Copa do Mundo de futebol feminino que está ocorrendo na França. Esta é a oitava edição do torneio que a cada competição avança de maneira considerável, porém muito aquém dos investimentos e estrutura se comparado ao que se encontra no masculino. Tal questão fica bem acentuada quando olhamos para esse cenário no Brasil.

Não são raros os desabafos e reivindicações de atletas referências na modalidade que sempre destacam que o futebol feminino precisa de investimento no Brasil para poder se tornar uma potência, assim como no masculino é considerado. 


Miraíldes Maciel Mota, a Formiga, retornou ao futebol após anunciar aposentadoria
por objetivo maior de lutar pelo seu país em mais uma Copa do Mundo
Foto: Divulgação

Para se ter clareza das súplicas, das 24 seleções que estão em disputa desta Copa na França, o Brasil não é cogitado nem entre as oito melhores seleções a faturar o troféu de campeão, embora a seleção canarinha já tivesse conquistado o vice-campeonato em 2007 na China e o 3º lugar em 1999 nos Estados Unidos.

Porém, ao observarmos aos nossos arredores, conseguimos enxergar, de forma gradativa, o avanço da modalidade no estado e no país. Mais próximo do nosso contexto, encontramos a Federação Paulista de Futebol disponibilizando três competições para as meninas, sendo elas o Campeonato Paulista, o Estadual sub 17 e o Festival feminino sub-14.

Já a CBF, com a reorganização do calendário voltado à categoria feminina, terá em 2019 11 campeonatos. São eles: Copa do Brasil Sub-20 (com 32 times), Campeonato Brasileiro Feminino A-1 (16 times), Campeonato Brasileiro Feminino A-2 (36 times), Campeonato Brasileiro Sub-17 (20 times), Copa do Nordeste Sub-20 (18 times), Campeonato Brasileiro de Aspirantes (16 times), Campeonato Brasileiro Sub-20 (20 times), Campeonato Brasileiro Feminino Sub-18 (24 times), Copa do Brasil Sub-17 (32 times), Supercopa Sub-17 (2 times) e Supercopa Sub-20 (2 times).


Considerada a rainha da modalidade, Marta foi cinco vezes a melhor jogadora do mundo
e atualmente ostenta o status de maior goleadora da história das Copas com 15 gols
Foto: Divulgação

Na opinião da zagueira Stela, o Brasil ainda tem muito a desenvolver no quesito. Ela enxerga que existem muitos talentos a serem lapidados, mas que a grande maioria não tem condições financeiras de investirem em suas carreiras. Ela entende que a falta de apoio, especialmente na inserção dessas meninas ao mundo do futebol, é o que diferencia para haver uma evolução considerável.

"Eu acho que o futebol feminino tem muito o que crescer ainda, mas falta muito apoio em relação a disponibilidade da inserção dessas meninas no mercado. A qualidade é enorme. Mas, se por exemplo a gente olhar a situação financeira dessas meninas, a maioria não possui muitas, e essa é a maior dificuldade. A maioria dos testes ou peneiras são realizados nas capitais ou grandes cidades, enquanto que os talentos de verdade, estão no interior, naquela cidadezinha que nem asfaltada é, por exemplo. A minha oportunidade mesmo, de participar dos testes que eu fiz, veio depois que meu pai faleceu, que foi quando surgiu uma condição melhor dentro de casa. Se não fosse isso, acredito que também não estaria aqui hoje. São várias coisas que envolvem a falta (de desenvolvimento) do futebol feminino, mas vontade nossa (nossa porque procuro sempre me incluir nesse grupo), o desejo, o sonho que almejamos realizar é o que nunca vai faltar." conclui.

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