A despedida de um ícone: aos 35 anos, Alex França anuncia aposentadoria do amador bauruense



jogador em recebimento da premiação do Troféu Ligado em 2010
Foto: arquivo pessoal

"Parei. Esses dois últimos anos foram bem complicados para mim, tanto pessoalmente quanto no futebol amador em si. Pensei muito pra tomar essa decisão. Os campos não ajudam, é muita briga. E eu, fisicamente, também não estou mais como antes." disse o agora ex-atleta Alex França.


Na última quarta-feira (21/09), véspera de seu aniversário, Alex compartilhou via facebook a postagem comunicando sua despedida do amadorzão.

Ele agradeceu a todas as equipes em que passou, pessoas com quem conviveu e disse que o amador a partir de agora é somente da arquibancada; apesar de amar o futebol bauruense:


"Amo jogar amador de Bauru. Mas como tudo tem seu final, amador agora para mim só da arquibancada! Obrigado a todos os times que joguei: Rasi, Luziana, Europa, Triagem, São Francisco, Ressaca e Geisel! Agradeço a Deus pelos amigos que jogaram comigo, a todos os técnicos e diretores, enfim, todos que fazem parte do futebol amador de Bauru!" escreveu.



postagem de despedida de Alex França
Reprodução via facebook

Alex tem 35 anos e se dedicou 19 deles jogando futebol. Desde os 16, 
jogando pelo Rasi, ele está presente no futebol amador. De lá pra cá o atleta evoluiu, amadureceu e colecionou as conquistas que naturalmente vieram em decorrência de seu caráter, cumplicidade e comprometimento.


Ele, que se tornou exemplo dentro de campo pelo tipo de pessoa que é, compartilhou um pouco de sua história vivida nessas quase duas décadas de dedicação ao esporte.


As histórias giram em torno especialmente das conquistas individuais, dos títulos coletivos e até da sua passagem no continente europeu, onde quase chegou a seguir carreira na Itália.



O primeiro título

Em 2003 Alex França conquistou o seu primeiro caneco no futebol quando integrou o elenco do Europa EC na conquista da 2ª divisão da Liga Bauruense de Futebol Amador:


"À época eu treinava no Baroni (Bauru FC). Foi um título muito legal, pois tinha uma identificação com o bairro, o Jardim Europa, onde joguei com o Daniel Nunes (atual presidente do Juventus FC), que era goleiro e presidente do time."


Anos mais tarde, em 2010, o atacante passou pelo Ressaca e foi quando se tornou artilheiro da UEFAB, levando inclusive o prêmio do Troféu Ligado como um dos melhores da posição na cidade:


"Levando em consideração as conquistas individuais, 2010 foi o meu melhor ano sim. Naquele ano, foi a temporada em que menos fiz gols porque o campeonato teve menos jogos. Em 2013, novamente no Ressaca, foi o ano porém em que fiz mais gols numa competição; 25. Mas lembro que fiz muitos gols também quando joguei no São Francisco. Lá certamente foram mais de 20. Mas também dei um pouco de azar né, (antigamente) não tinha muitas goleadas." 



atleta em recebimento de troféu
Foto: arquivo pessoal

Apesar de ter se sagrado campeão também jogando em cidades adjacentes como Arealva (onde foi campeão regional); campeão municipal nesta mesma cidade jogando por Jacuba e Marilândia e tri-campeão municipal em Iacanga, Alex declara que ficou chateado porque em sua carreira não conseguiu ser campeão da 1ª divisão na cidade.


Ele também entende que durante a sua passagem no amador, teve muito sucesso pelo respeito que conquistou e também pelas amizades formadas:


"Minha história no futebol amador, na minha opinião, foi de muito sucesso. Não somente pelos feitos dentro de campo, mas principalmente pelas amizades que construí nesse período. Também pelo respeito que conquistei de equipes rivais e demais adversários, tanto por ser considerado um bom jogador como uma pessoa de bom caráter e boa índole. Minha única tristeza porém foi não ter conseguido ser campeão amador da primeira divisão."


Alex França também jogou profissionalmente e quase teve sua ida concretizada para jogar no futebol italiano. No início dos anos 2000, quando jogava no Bauru FC, do Baroninho, chegou a disputar um campeonato na "terra da bota" após uma avaliação feita em Bauru pelo ex-atleta do Palmeiras e seleções brasileira e italiana, Mazzola:


"Cheguei a jogar no Grêmio de Jaciara, do Mato Grosso. Mas verdadeiramente nem me considero como tendo sido um jogador profissional. Sempre fui jogador do amador de Bauru. Sobre a experiência na Itália, era para eu ter ido jogar em um clube da 2ª divisão. Mas por alguns problemas acabou não dando certo."


Ele contou como foi esse processo da sua quase ingressão ao futebol do "velho continente". Salienta que a oportunidade certamente poderia mudar a sua vida e também descreve que neste período foi o qual viveu sua maior desilusão e frustração no futebol.


Alex França , com camisa do Bauru FC ao lado de Baroninho, na Itália
Foto: arquivo pessoal

"Naquela época (2000/2001), o Mazzola veio à Bauru para ver alguns jogos e observar atletas para levar à Itália. Esses jogos aconteceram no CT do Baroninho. Jogamos contra o XV de Jaú, se não me engano, e ganhamos por 2 a 1 com um dos dois gols meu. Eu joguei muito bem e o Mazzola gostou de mim, e iria me levar sozinho pra lá. Mas por fim, ele conseguiu inscrever o time todo do Bauru FC em um campeonato na cidade de Viareggio (375 km da capital Roma) e então acabei indo com o restante da equipe para reforçá-los para essa competição."



A preparação e a viagem


"A preparação foi feita aqui com o técnico Fantick. Na reta final chegou um treinador italiano, o Sergio Calligaris, que dirigiria o nosso time neste campeonato lá na Itália. Os italianos bancaram a ida do Bauru FC através do Mazzola. Só que ele (Calligaris) tinha como perfil priorizar jogadores atacantes com maior estatura, e um exemplo é o do Marcos Ariel (jogador de 1,86m que atualmente está no Pro Vercelli) que jogava na mesma posição que eu. Então por conta disso, ele me preteriu no time."

A ida para a Itália

"A minha ida para lá não estava atrelada essencialmente ao Bauru FC, porque a minha permanência já era certa. Tanto é que eu já tinha levado roupa e o pessoal já havia conversado com meus pais aqui no Brasil." salienta.


Esse campeonato que o Bauru jogou foi o "53º Torneo Mondiale di Calcio", e era uma espécie de Copa São Paulo de Juniores; só que com equipes do mundo todo. Os bauruenses no entanto enfrentaram os times da Roma, do Palermo e do Vilanovense (Portugal). Porém, Alex foi desentendido pelo treinador italiano que o acabou vetando durante as disputas:


"Nós chegamos na Itália e na preparação fiz um gol numa partida amistosa. Mas durante o campeonato eu não joguei." lembra o ex-atacante. 
"Contra a Roma eu não participei; contra o Vilanovense eu entrei no final porque o Baroni praticamente o obrigou a colocar-me; e contra o Palermo acabei não entrando também."

Alex afirma que chegou até si a informação com a segurança de que o fato de ele não ter participado dos jogos não influenciaria na sua permanência na Itália após a competição:

"Foi me passado que não teria problema esse fato de eu estar jogando ou não, porque de uma maneira geral, quem tinha gostado do meu futebol era o Mazzola. Mas que como conseguiram essa vaga para o time de Bauru, eu acabei indo junto." frisa.

Alex ainda ressaltou que nas avaliações feitas para esse campeonato em Bauru, ele inclusive foi o único dos atletas que não participou:

"Eu fui o único jogador que não fez teste para jogar esse campeonato. À época foram feitas avaliações em Bauru com jogadores de vários empresários. E nestes testes por exemplo participaram jogadores como o Cristian (hoje no Corinthians); também vieram dois jogadores de Minas Gerais pertencentes ao Geraldão (ex-jogador do Grêmio) e três jogadores do América de Rio Preto, que na época tinha uma categoria de base muito forte e entre eles estava o Paulinho Marília (atualmente no Coruripe-AL), que acabou fazendo dupla de ataque com o Marcos Ariel."


O fator determinante

torneio que Alex França, junto com a equipe do Bauru FC, disputou na Itália
Imagem: divulgação

Outro momento de adversidade acontecido na Itália ressaltado por Alex foi quando o técnico quis fazer com que os atletas brasileiros se adaptassem o quanto antes à forma de eles se alimentarem. A situação ficou delicada pois gerou desconforto dos dois lados. E para Alex culminou como justificativa para que não permanecesse mais no país:

"Houve uma situação lá também relacionada à refeição, em que aconteceu um problema entre o time e o treinador. O Sergio quis que nós nos adaptássemos a fazer a refeição da maneira que era lá, e nós não conseguíamos nos adaptar direito. No final das contas, eles alegaram que eu acabei não ficando na Itália porque o Mazzola teria ficado bravo por eu não ter me posicionado em favor do treinador. E sinceramente eu achei um pouco estranho, pois se houve problema com todo mundo, por que que eu não ficaria? Aí acabei voltando sob essa alegação."

Alex acredita que além do fato de não ter "feito a vontade" do técnico e de não corresponder às suas expectativas quanto a estatura, o fato de ser chamado de "filho do Altafini" (sobrenome de Mazzola), possa ter o incomodado:


"O fato de o pessoal me chamar assim, acredito que na cabeça desse treinador, ele possa ter utilizado também dessa maneira para mostrar que ele tinha força e era ele quem mandava. Lá na Itália a mentalidade não é semelhante a do Brasil, em que há interferência de diretores no que o treinador faz. Não era porque o Mazzola gostava de mim que se o treinador achasse que eu não deveria jogar, eu não jogaria; como foi o que aconteceu."



O retorno

Ele lamenta os ocorridos exatamente porque naquela época vivia sua melhor fase no mundo do futebol. Os 30 dias que passara na Europa, haviam chegado ao fim:


"Infelizmente foi dessa forma que acabei retornando. E foi uma pena porque naquela época eu estava treinando muito bem. Modéstia à parte, eu era um dos melhores do time porque estava bem fisicamente e tecnicamente. Tinha sido a minha melhor época jogando futebol."


"Sofri uma desilusão muito grande porque era certa a minha permanência lá. Me passaram que eu ia para ficar; e que o campeonato na verdade era somente uma forma de eu ir junto. Acho ainda que essa foi a minha maior decepção no futebol. Exatamente porque eu tinha a chance de mudar a minha vida ficando na Itália. Acho que a situação poderia ter sido conduzia de uma maneira melhor."



O futuro e as expectativas para o futebol amador

Alex em partida com a camisa da Luziana
Foto: arquivo pessoal

Apesar de aposentado no futebol amador, Alex França revela que pensa sim em trabalhar, futuramente, em algo ainda dentro do esporte exercendo por exemplo o cargo de diretor, coordenador ou até mesmo treinador:

"Penso sim. Num futuro próximo. Mas por hora só quero descansar. Bem como poder jogar no master (para jogadores acima dos 40 anos). Apesar de estar longe, tenho vontade."


"Agora como espectador do futebol amador eu espero que tenha mais consciência, tanto por parte dos atletas como por parte dos dirigentes, para que posteriormente eles acabem transmitindo isso também aos torcedores."


E finaliza com um desabafo e a esperança de quem tanto colaborou para a evolução da modalidade em Bauru:


"Torço muito para que o nosso futebol amador não se acabe. Mas para que isso aconteça, temos todos que rever os nossos conceitos." conclui.




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